Cores e Raízes de Tarsila do Amaral: Uma Jornada pela Arte e pela História

Desde muito jovem, Tarsila do Amaral me inspira. Sua maneira de traduzir o Brasil em cores, formas e sentimentos me toca profundamente e foi por isso que decidi seguir seus passos, literalmente. Já estive em Paris e em Minas Geraispara entender de perto os caminhos que despertaram sua arte e formaram essa mulher tão singular. Cada lugar que visitei parecia me contar um pedaço da alma da Tarsila.

Quando criei o Acordei Quero Viajar, a Tarsila estava comigo de uma forma simbólica. Comprei um caderno com uma estampa de uma tela dela“A Torre Eiffel”, pintado por Tarsila do Amaral em 1926, para anotar meus sonhos e projetos. Aquele caderno se tornou um amuleto, um lembrete diário de que a arte, as viagens e a sensibilidade podem caminhar juntas. Assim como Tarsila fez: transformou o mundo que via em poesia visual.

As origens de Tarsila: um Brasil que virou cor

Tarsila nasceu em 1º de setembro de 1886, em Capivari, no interior de São Paulo. Filha de fazendeiros, cresceu cercada por paisagens rurais que, mais tarde, se transformariam nas cores vibrantes e nas formas que marcaram sua pintura. Ainda menina, estudou no Colégio Sion, em São Paulo, e depois em Barcelona, onde pintou sua primeira obra, Sagrado Coração de Jesus (1904).

De volta ao Brasil, casou-se e teve uma filha, Dulce. Mas foi após o divórcio que Tarsila seguiu o chamado da arte. Começou estudando escultura com Zadig e pintura com Pedro Alexandrino, quando conheceu Anita Malfatti, amiga, referência e ponte para o universo modernista que estava prestes a florescer.

Paris: o despertar da artista moderna

Em 1920, Tarsila partiu para Paris, o centro do mundo artístico da época. Estudou na Académie Julian e teve aulas com Émile Renard. Foi ali que ela entrou em contato direto com as vanguardas europeias, especialmente o cubismo.
Quando voltei de Paris, depois de visitar os lugares onde Tarsila estudou e viveu, consegui compreender a força desse momento. A cidade, com toda sua efervescência cultural, ofereceu a ela não apenas técnica, mas um novo olhar para o mundo e, sobretudo, para o Brasil.

De volta ao país, em 1922, Tarsila conheceu Oswald de AndradeMário de AndradeMenotti Del Picchia e se juntou a Anita para formar o famoso “Grupo dos Cinco”. Juntos, abriram caminho para o modernismo brasileiro, propondo uma arte mais livre, autêntica e conectada com nossa identidade.

O retorno às raízes: o Brasil dentro da arte

No fim de 1922, Tarsila retornou a Paris e mergulhou ainda mais nas vanguardas. Lá, conheceu o poeta Blaise Cendrars, que a apresentou a artistas como Fernand LégerPicassoBrancusi e os Delaunay. Foi Léger quem se encantou com sua obra A Negra, reconhecendo nela algo único: um olhar brasileiro em diálogo com a modernidade europeia.

Mas foi quando Tarsila voltou seus olhos novamente ao Brasil que encontrou sua verdadeira voz. Em suas viagens por Minas Gerais, ela redescobriu as cores da infância o azul profundo, o verde das montanhas, o rosa e o amarelo do interior. Quando estive em Minas, pude sentir exatamente isso: as mesmas paisagens que Tarsila pintou ainda parecem pulsar nas cidades coloniais e nas montanhas que moldaram seu olhar.

Dessa fase nasceu o movimento Pau-Brasil, com obras que celebram o país em sua essência popular e tropical, como Morro da FavelaCarnaval em Madureira e O Mamoeiro.

O Abaporu e o nascimento da arte antropofágica

Em 1928, Tarsila criou Abaporu, como um presente de aniversário para Oswald de Andrade. Essa tela deu origem ao Manifesto Antropofágico, símbolo da arte que “devora” as influências estrangeiras para criar algo novo e genuinamente brasileiro. Abaporu tornou-se um ícone da arte moderna, reconhecido mundialmente até hoje.

Uma mulher à frente do seu tempo

Nos anos seguintes, Tarsila enfrentou perdas e transformações. Com a crise de 1929 e o fim de seu casamento, sua pintura ganhou novos temas, mais sociais e humanos. Obras como Operários (1933) e Segunda Classe retratam o cotidiano dos trabalhadores brasileiros com sensibilidade e força.

Durante as décadas seguintes, continuou criando, escrevendo e expondo. Participou da I Bienal de São Paulo (1951), da Bienal de Veneza (1964) e, em 1969, recebeu uma grande retrospectiva: Tarsila 50 Anos de Pintura, organizada por Aracy Amaral. Faleceu em 1973, deixando um legado que atravessa gerações.

O que Tarsila representa para mim

Tarsila do Amaral foi mais do que uma pintora. Ela foi uma intérprete da alma brasileira. Sua obra me inspira não apenas pela beleza, mas pela coragem, a coragem de ser quem se é, de transformar o cotidiano em arte e o Brasil em poesia visual.

Cada vez que olho uma tela de Tarsila, vejo um espelho do que somos: diversos, coloridos, profundos. E é essa essência que me move a criar experiências de viagem que conectem pessoas à arte e à história, como a viagem “Cores e Raízes de Tarsila”, que desenhei para reviver, junto com outros apaixonados por arte, os lugares e as emoções que moldaram essa artista inesquecível.

Em maio de 2026 embarcaremos nesta viagem singular e fica aqui meu convite para você participar junto comigo e com a família da Tarsila deste momento fantástico da historia da arte!